sábado, 30 de abril de 2011
Educação sexual na visão espírita
“Disse a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede, nem venha aqui tirá-la. Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e volta aqui. Respondeu-lhe a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Disseste bem, dizendo que não tens marido; porque cinco maridos tiveste e o que agora tens não é teu marido; nisto falaste a verdade.” (João, 4:15-18.)
Essa passagem evangélica de extrema grandeza espiritual, vivida junto ao tradicional “poço de Jacó”, na Samaria, e registrada por João, destaca a escolha da samaritana para dialogar com o Mestre e ouvi-lo enunciar a dulcíssima mensagem:“[...] Todo aquele que beber da água que eu lhe der jamais terá sede” (4:13). Ao falar-lhe sobre os seus maridos, Jesus mostra à mulher o verdadeiro sentido da “água a ser bebida” e que nunca haveria de acabar, libertando-a da sede de amor que tanto a atormentava, após frustradas experiências amorosas.As palavras iluminadas da autora espiritual Amélia Rodrigues ressaltam as emoções vividas pela samaritana naqueles momentos do encontro inesquecível:
[...] Os meigos olhos d’Ele incendeiam- se e se fixam nos olhos dela, penetrando-lhe o recôndito do espírito.
[...] Ela se perturba. Era uma pecadora e Ele o sabia –, conjectura. Esse era o seu tormento íntimo. Quanto se sentia ferida, humilhada no seu amor, receosa! As lágrimas afloram e escorrem abundantes; a palavra empalidece o vigor nos seus lábios e, quase sem fôlego, esclarece: – Não tenho marido. A vergonha estampa no seu rosto moreno a própria dor.
Ao associarmos esse colóquio a certos problemas atuais do sexo, a exigirem soluções imediatas em função da sua gravidade, quando multidões parecem estar distantes da realidade, como se o ser humano nada mais fosse do que um “animal que pensa”, é possível considerar os prejuízos e os desajustes ético-morais que acarretam as dolorosas provas a serem vividas por aqueles que se desequilibram na aplicação das suas energias genésicas.
As imperfeições na área da sexualidade são desastrosas para muitos de nós, atormentando as mentes em desalinho que assim permanecem, graças ao descontrole do sexo mal dirigido e causando nas criaturas desequilíbrios emocionais profundos, principalmente no desentendimento entre os parceiros que fracassam na comunhão afetiva e que geram, entre outras situações aflitivas, dificuldades, tais como: infidelidade, abandono, prostituição, violência doméstica, rejeição à gestação (mormente, na adolescência), aborto etc. Esses transtornos, infelizmente, em determinados casos, resultam em crimes passionais ou suicídios desesperados, nascidos de psicoses obsessivas verdadeiramente traumáticas.
Por essa razão, a análise do presente tema só será possível se o tratarmos sob o ponto de vista espiritual, sem deixar de dar importância aos estudos desenvolvidos pelas cátedras materialistas,que se restringem, unicamente, aos resultados psíquicos, fisiológicos, e de encaminhamento legal, obtidos na união sexual, conhecimentos esses transmitidos pelos educadores aos adolescentes, de forma inadequada,que faz com que as orientações científicas dos especialistas cometam equívocos sobre as questões que emergem da sexualidade, sobretudo em consequência da falta do conhecimento basilar das ideias reencarnacionistas. O Espírito Emmanuel, ao discorrer sobre tais particularidades, afirma com sabedoria:
– Não devemos esquecer que o amor sexual deve ser entendido como o impulso da vida que conduz o homem às grandes realizações do amor divino, através da progressividade de sua espiritualização no devotamento e no sacrifício.
[...] É aí que urge o esforço de autoeducação, porquanto toda criatura necessita resolver o problema da renovação de seus próprios valores.
Ressalta, todavia, o preclaro Benfeitor:
[...] em vez da educação sexual pela satisfação dos instintos, é imprescindível que os homens eduquem sua alma para a compreensão sagrada do sexo.
A necessidade de amparo educativo adequado ao entendimento dos problemas do amor e do sexo permitirá ao Espírito encarnado libertar- se de velhas imperfeições, nascidas desses embaraços sentimentais que despontam do passado multimilenar, pois, no dizer da insigne educadora espiritual Joanna de Ângelis, “[...] o problema do sexo é do espírito e somente do espírito virá, para ele, a solução”.
É imprescindível refletir sobre a urgência de transmitir às crianças e aos jovens, de acordo com o nível de compreensão de sua faixa etária, orientações salutares de como as vivências amorosas futuras poderão ser equilibradas quando utilizamos, também, as próprias forças genésicas para setores de atividades criativas, promovendo ocupações produtivas, físicas ou morais, que lhes possibilitem, na idade adulta, maior equilíbrio e não extremismo nas experiências sexuais, sem cometer desregramentos, mas esforçando-se no cultivo do respeito entre dois seres que se unem. O Espírito Maia de Lacerda destaca o realismo e a emergência desses estudos, ao observar os obstáculos encontrados pelo despreparo de pessoas que adotam comportamentos deploráveis em que, ao lesarem
[...] almas dignas que lhes merecem a afeição, se desvairam [...] à procura de companhias e parceiros outros de novidade emotiva, interrompendo serviços absolutamente imprescindíveis para eles no quadro da reencarnação [...].
Esses efeitos poderiam ser evitados se os pais abordassem esclarecimentos de modo franco e sincero, na fase da infância e da adolescência de sua prole, sobre as indagações que surgem a respeito do sexo, estimuladas, especialmente, pela excessiva propaganda dos tempos modernos da informação, causando extrema curiosidade sobre o assunto; enfoques que nem sempre dignificam os princípios humanos e que influem, negativamente, sobre os filhos. Objetivamente, esses são pontos de vista que conferem “pretensa legitimidade às relações sexuais irresponsáveis” e tratam “consciências qual se fossem coisas”.
Sabemos que “o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo”, procurando discernir entre o bem e o mal; cederá às influências, boas ou más, em função de sua livre vontade e resistirá, ou não, às tentações que surgem da própria imperfeição ou das fraquezas morais que são sempre indícios de uma alma imperfeita. Jesus, sabedor de nossas fragilidades, ao ensinar a Oração dominical, sugere, sabiamente, em um de seus trechos:“Não nos deixes sucumbir à tentação, mas livra-nos do mal”(Mateus, 6:13). A resposta dada pelos Espíritos reveladores à pergunta 261, em O Livro dos Espíritos, traz luz para nossa compreensão sobre o que é preciso fazer nas provações, que nos cumpre passar, sem que venhamos a sofrer toda sorte de tentações de variadas naturezas:
[...] bem sabeis haver Espíritos que desde o começo tomam um caminho que os exime de muitas provas.Aquele, porém, que se deixa arrastar para o mau caminho, corre todos os perigos que o inçam. Pode um Espírito, por exemplo, pedir a riqueza e ser-lhe esta concedida. Então, conforme o seu caráter, poderá tornar-se avaro ou pródigo, egoísta ou generoso, ou ainda lançar-se a todos os gozos da sensualidade. Daí não se segue, entretanto, que haja de forçosamente passar por todas estas tendências.
Em decorrência, se queremos contribuir para o progresso espiritual de nossos rebentos,“há necessidade de iniciar-se o esforço de regeneração em cada indivíduo, dentro do Evangelho, com a tarefa nem sempre amena da autoeducação”.
As publicações da literatura espírita, de livros seguramente fundamentados nas obras básicas de Allan Kardec, oferecem para os jovens e adultos farto material sobre as dúvidas que giram em torno do sexo, permitindo-nos discuti-las, essencialmente, com a família, na exemplificação do bom senso e da isenção de preconceitos e tabus. E os livros espíritas infantis são transmissores de lições preciosas, facilitando, nas pequeninas almas, a eclosão de qualidades morais indispensáveis à formação da mentalidade cristã, primordial para que a criança possa “fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e consertando-lhe as posições mentais, pois que
essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida”.
Clara Lila Gonzales de Araújo
Revista Reformador Abril de 2011
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