sexta-feira, 20 de julho de 2012
Prossigo para o alvo
Sandra Borba
Uma das mais profundas questões presentes nos Evangelhos é a “pergunta-desabafo” de Simão Pedro dirigida ao Senhor Jesus.Vejamos o contexto: após uma “dura” pregação na Sinagoga em Cafarnaum, onde se autodefiniu como o “pão” vivo, Jesus observa os discípulos murmurando e afirma que alguns de seus seguidores nele não criam.Muitos discípulos já não o seguiam quando o Mestre indaga aos doze: “Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna”. (João, 6:67-68.)
A questão de Pedro:“para quem iremos nós?”reveste-se de singular sentido e nos remete a reflexões profundas. O problema levantado por Jesus permanece atual: queremos nós de fato segui-lo? Temos medo de seu discurso e das naturais consequências de nossa adesão ao seu programa de trabalho e renovação?
Diante do chamado do Senhor, afirma-nos o Espírito Emmanuel, em Vinha de Luz, cap. 50, nos posicionamos de várias formas, evidenciando diversos comportamentos: distraídos,desinteressados, temerosos, em fuga, buscando atender nossos interesses pessoais.1
A razão dessa diversificada resposta localiza-se nas nossas motivações e desejos, objetivos de vida, nível evolutivo, possibilidades de superação, exercício da vontade.
Seguir a Jesus não é apenas verbalizar uma adesão ou palidamente realizar alguns atos sob a inspiração de valores cristãos. Como o próprio Mestre situou, é negar a si mesmo e tomar a cruz. Entendemos o negar a si mesmo não como uma anulação da personalidade, incoerente com o propósito crístico de educação das criaturas, mas como a mudança de valores e paradigmas que o cristão passa a expressar quando de fato busca viver as lições do Evangelho. Por outro lado, toda mudança de profundidade exige sacrifícios e exercícios disciplinares nem sempre “fáceis”de realizar, sobretudo devido às resistências íntimas que apresentamos para a superação do nosso vício radical, o egoísmo. Tomar a cruz significa, assim, disciplina, decisão clara, perseverança e vontade firme de vivenciar os valores agora internalizados, sob a tutela do Mestre de Amor.
Pelas razões acima expostas – continua o Benfeitor espiritual na mesma obra acima aludida – são raros os que buscam o alvo a que devem perseguir: “a união divina do discípulo com o Mestre”.1
Em que consiste essa união do discípulo com o Mestre? Emmanuel responde afirmando: “É indispensável transformá-lo em padrão permanente da vida, por exemplo e modelo de cada dia”.2
Isso implica em buscar a inspiração superior, o autoconhecimento para identificação de nossas sombras, manter a fé viva no serviço ao Bem, defender o coração pelo cultivo dos bons sentimentos, trabalho em prol das coletividades. Numa síntese: estudo, prática Prossigo para o alvo SANDRA BORBA U Capa e divulgação das palavras de vida eterna. Essas palavras correspondem a conteúdos com sabor de infinitude porque se dirigem ao homem-Espírito imortal.
É ainda Emmanuel que nos afirma, agora no capítulo 138 da obra Pão Nosso: “Quando Jesus penetra o coração de um homem, converte-o em testemunho vivo do bem e manda-o a evangelizar os seus irmãos com a própria vida [...]”.3
Apropriando-se dos conteúdos de vida eterna, o cristão sente-se na responsabilidade de divulgá-lo junto aos seus irmãos pela Paternidade Divina, devendo fazê-lo com respeito à liberdade do outro e esforço de vivência própria. Afinal, quando Jesus nos afirma da necessidade de colocarmos a candeia no velador, conclama-nos à responsabilidade de socializar aqueles conteúdos. Aí está o compromisso com a ação evangelizadora junto a todos, mas, especialmente, junto às gerações novas, mais receptivas e flexíveis diante das boas ideias e bons exemplos.
Evidenciando o compromisso dos seus discípulos para com a divulgação da Boa Nova, Jesus fornece-lhes as orientações quanto ao trabalho de semeadura que iriam realizar, consoante os registros de Mateus em seu capítulo X. Aí está a diretriz da tarefa de propagação do Evangelho.
Consciente de sua própria transformação em face dos ensinos de Jesus, Paulo converte-se em arauto da Boa Nova, ensinando pela palavra e pelo exemplo, pela fidelidade e perseverança. Diante dos sacrifícios e testemunhos que teve que vivenciar, demonstrou, dentre outras conquistas, o espírito combativo e “focado” em objetivos claros, além do cultivo da prece, da meditação e das disciplinas morais que expressou e defendeu em suas cartas e em seus atos.
“Prossigo para o alvo [...]”, afirmou em sua epístola aos Filipenses, (3:14). Prossegue aquele que caminha decidido e seguro na direção do alvo. Paulo caminhou a passos largos, após a conversão em Damasco, ao alvo que estabeleceu para sua vida: servir ao Senhor ao ponto de poder afirmar: “Não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim” (Gálatas, 2:20).
Ao ensejo da realização do VI Encontro Nacional de Diretores de DIJ, indagamos a nós e a todos os que militam no Movimento Espírita: prosseguimos, após 35 anos de Campanha de Evangelização Espírita Infantojuvenil, no caminho do alvo estabelecido? Caminhamos seguros da tarefa que nos compete quando já nos sentimos pelo menos “tocados” pela mensagem libertadora do Evangelho?
A orientação está posta: prossigamos para o alvo da evangelização pessoal e coletiva, construindo com nosso esforço uma nova era para a Humanidade, era de paz onde reinem a fraternidade entre os homens.
1XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap. 50, p. 119.
2______. ______. Cap. 100, p. 227.
3______. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 29. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Cap. 138, p. 292. Julho 2012 • Reformador 267 29
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