quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Raul Teixeira responde


– Você acha válida a proposta de Kardec pertinente à atualização periódica dos ensinamentos espíritas, em face do avanço da ciência? Em caso afirmativo, como devemos implementar essa medida?

Raul Teixeira: Acho estranho que Kardec haja feito essa proposta de atualização periódica dos ensinamentos espíritas ─ uma vez que os referidos ensinamentos não são da cogitação científica, já que a Ciência formal vem se mantendo sob a égide do materialismo por meio da grande massa dos seus representantes encarnados ─, por ter ele mesmo escrito na Introdução de O Livro dos Espíritos, parte VII: Vede, portanto, que o Espiritismo não é da alçada da Ciência.

Na medida em que avança a Ciência, maiores confirmações temos encontrado para as teses que fundamentam o Espiritismo. Até hoje, nenhuma das descobertas científicas conseguiu abalar os alicerces da formosa Doutrina que, ao contrário, mais se fortifica diante dos espíritas estudiosos e da mentalidade geral dos que a acompanham à distância. No bojo desses avanços contemporâneos da Ciência, temos encontrado muitas mudanças de entendimentos científicos, muitas trocas de nomenclaturas, incontáveis descobertas que enriquecem o terreno das investigações. Porém, nenhum desses valores que nos hão chegado em razão das humanas pesquisas tem arranhado o pensamento fulgurante e vanguardista do Espiritismo.

Qualquer informação mediúnica assinada, ínsita na Codificação, não é maior que o corpo doutrinário do Espiritismo, que se fundamenta na existência de Deus, na existência e imortalidade da alma, na pluralidade das existências (reencarnação), na pluralidade dos mundos habitados e na comunicabilidade dos Espíritos (mediunidade). Nenhuma ciência conseguiu ferir esses princípios.

Há muitos confrades afoitos, mal informados, ou sem muita intimidade com o pensamento científico ─ refiro-me ao pensamento científico acadêmico e não de livros jornalísticos de informações científicas ─, que estão sempre “ouvindo dizer” isso ou aquilo e que se mostram muito apressados em efetuar mudanças no corpo da Doutrina Espírita, pautados em suas crenças de que a Ciência já tenha superado o Espiritismo... É uma pena! Isso demonstra que podem ter alguma leitura das obras kardequianas mas não o entendimento aprofundado que se espera de quem pretende fazer modificações no trabalho alheio.

Há pessoas que propõem e até publicam propostas de se alterar, por exemplo, o termo fluido, usado por Kardec em suas obras, pelo termo energia, utilizado cientificamente. Sem dúvida seria uma aberração tal modificação, caso fosse implementada. Por suas características e definições, fluido e energia nas ciências têm significados teóricos muito diferenciados. Um se define, a outra não. Por outro lado, o que Kardec chama de fluido, no Espiritismo, não é o mesmo fluido da físico-química, e assim por diante.

O melhor em tudo isso será o nosso maior estudo e aprofundamento das questões e teses espíritas, a fim de que, compreendendo melhor o ensino dos Imortais, a ele nos ajustemos, procurando modificar-nos para assumir a posição de sal da Terra da qual nos incumbiu Jesus.


Extraído de entrevista publicada no jornal O Imortal de fevereiro de 2009.

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